sábado, 31 de agosto de 2013

QUANDO O POVO SAI ÀS RUAS


Em outubro de 1660, Salvador Correia de Sá, poderoso governador da capitania do Rio de
Janeiro, depois de impor à população um imposto predial de 20 réis, saiu em viagem para São Paulo. Foi surpreendido por uma revolta popular que ganhou as praças, o depôs e instalou um   novo governo para a cidade. D. Pedro I, imperador e defensor perpétuo do Brasil, esperava ser recebido com festa em 13 de março de 1831, quando retornava à corte, após um périplo  pelas Minas Gerais. Mas os brasileiros, revoltados com a precedência dos portugueses nos ministérios e nas preocupações do monarca, saíram às ruas para protestar na base dos chuços e garrafadas.

Em 2013, prefeitos, governadores, parlamentares, partidos, sindicatos e a presidente da  República se surpreenderam  com uma onda que começou pequena e cresceu na velocidade das redes sociais, até se transformar na maior manifestação popular de toda a história do Brasil.Esses e os vários motins, rebeliões, manifestações, escaramuças e bernardas que o Brasil viveu em 500 anos de história demonstram quão falaciosa é a afirmação de que a população brasileira aceita com passividade os muitos desmandos que sua elite política tem perpetrado ao longo do tempo. A opinião pública é uma espécie de organismo vivo que pode ganhar as ruas a qualquer momento e derrubar aumentos de passages, leis, casuísmos e até presidentes   e imperadores.

Se alguém tinha se esquecido disso e considerava a população brasileira anestesiada pela repetição exaustiva dos casos de corrupção, patrimonialismo e incúria, a partir do espetacular junho de 2013 terá de rever seus conceitos.

Dirley Fernandes (Editorial da Revista História Viva nº 118, Agosto de 2013)


segunda-feira, 3 de junho de 2013

À IMAGEM DE DEUS

Ele olhou de novo para o que acabara de criar e deu um longo suspiro que terminou em um sorriso de satisfação.

Homem! – exclamou com amor, pestanejando para o boneco de barro deitado em uma espessa grama.

Um milagre. Talvez essa seria a única vez em toda Sua existência que Ele faria algo com tanto orgulho. Em seus pensamentos ocorria aquele ser feito para adorar, ser feliz, brincar. Tinha tantas expectativas, tantos planos em mente. Passando a mão por sobre o que seriam seus cabelos, o mais bonito que poderia existir, pegou sua criação com ternura. Estava tudo tão perfeito que os braços e pernas do boneco pareciam que já estavam articulados, podiam ser movidos. O lindo rosto de barro minuciosamente modelado, foi desenhado por suas próprias mãos. Olhos penetrantes, curiosos, parecidíssimos com olhos de verdade, brilhavam entre cílios milimetricamente intercalados. Fascinado, Deus descobriu sua obra prima. Numa das faces levemente coradas havia um sinal de beleza, e a boca, ligeiramente entreaberta, mostrava uma fileira de dentes de uma cor pura, alva como a neve. Ele tomou o boneco em seus braços com toda delicadeza e ficou ali, em meio a um jardim imenso, olhando, sonhando, admirado.

Com os olhos fechados Ele deu um longo sopro nas narinas daquele boneco de barro em suas mãos. Como que por efeitos especiais aquele boneco foi se transformando em um homem, os olhos virgens piscavam sem parar, a claridade do dia os ofuscavam. Sentiu sua língua se mexer e tentou balbuciar algo mas só saiu gemidos indescritíveis. A mão do Grande Pai pousou-lhe sobre a boca como num gesto de calma.

Com todo cuidado o Senhor o auxiliou a ficar de pé para poder contemplar as maravilhas à sua volta. Um pouco tímido e muito curioso o então boneco apoiado nos ombros dEle colocou-se de pés. Os pássaros cantavam hinos de louvores a Deus, os anjos glorificavam, todo ser vivente olhava admirado para a mais nova criação do Senhor. Parecia que a alegria do Criador estava sendo sentida por toda criatura.

Agora, sorrindo o Papai lhe diz: "Hoje estou te dando a oportunidade de escolher, de ser, de interagir com a história. Sei que você irá passar por muitos problemas, algumas vezes a ansiedade e preocupação vai tomar conta de você. Terá um fardo que será medido e pesado por conseqüência de suas atitudes. Fará inimigos, muitos vão te perseguir e criticar por seus sonhos, mas não desista de nenhum deles, pois quem te fará sonhar sou Eu, sonhar com o Evangelho, com a graça, com Meu Filho Amado, Eu os darei para que sua vida tenha um sentido. Lute com todas as suas forças, viva intensamente aproveitando cada momento. E, jamais se esqueça de mim, sempre que precisares estarei disponível, quero ser além de um Deus para você, eu Sou seu Pai, seu melhor Amigo. Não carregue suas dúvidas e ansiedades sozinho, divida-os comigo, confie em Mim pois Eu te amo e vou fazer de tudo para que você me ame também."

Por,
Ulisses Juliano

terça-feira, 21 de maio de 2013

NÃO ERA PARA SER ASSIM

Círculos, redes de interesse.

"Confeccionamos" nossos relacionamentos e os moldamos de acordo com nossas necessidades. Nem sempre importa o que meu próximo, meu amigo(a), meu amado(a) precisa, o essencial, muitas das vezes, é o que eu quero.
Máscaras, são tantas quantas forem necessárias.

Somos assim.

Infelizmente somos moldados por nosso contexto social e isso nos leva a situações de sobrevivência em um mundo onde se amamos, queremos escravizar sentimentalmente a outra pessoa, ou ainda, se nos aproximamos, é porque o outro tem algo que me é útil.

Andamos armados na alma, prontos para revidar, acusar, massacrar a quem tiver a audácia de nos contrapor. Não há diálogo, não há respeito, não há entendimento, todo o espaço é preenchido por vingança, rancor, traumas e ressentimentos. Não era para ser assim, não foi para isso que nascemos. Mas é assim que é. Infelizmente isso se torna um ciclo no qual um dia somos os autores e em outro somos as vítimas desse sistema vil.

Relacionamentos são desfeitos, famílias desestruturam-se, pais contra filhos, irmãos contra irmãos, amigos se tornam inimigos, laços são quebrados, corações partidos e vidas experimentam o fel da dor, do desprezo, da solidão, da culpa, do medo, da vergonha e de tudo o que é gerado nestas circunstâncias.

Qual o antíodoto? Qual a solução? Como equacionar esse dilema?

Não é simples, não há uma resposta óbvia para circunstâncias complexas que nos são apresentadas em nosso dia a dia. É por isso que Jesus nos convida a oferecer a outra face, a padecer com Ele, a experimentar a fé não só nos momentos bons, mas também no cotidiano, nos relacionamentos, nas mesas de jantar, nos bate papos entre amigos, nos nossos encontros e desencontros.

Neste mundo teremos aflicões, contudo, precisamos ter ânimo bom para enfrentar a vida de peito aberto, de coração sincero, de abraços reconciliadores, de lágrimas honestas, de sorrisos puros. Não há promessas de carros novos, não há profecias de chave de casas ou de casamentos perfeitos, o que há, é a convicção de que em todos os dias, sejam eles bons ou maus, o Eterno estará conosco, nos consolando, nos edificando, nos guiando neste mundo onde o amor não pode ceder ao ódio.

No evangelho só há uma Porta, não obstante ela sempre será o acesso ao recomeço. Isso não significa que tudo tem que ser do mesmo jeito tal como antes, mas sim que podemos bater a poeira e começar uma nova caminhada.
A Porta sempre está aberta a quem quiser andar pela fé. Experimenta!

Por,

Ulisses Juliano

sábado, 4 de maio de 2013

MUITO ALÉM DO PERDÃO

Culpado se eu ir.
Culpado se não comparecer.
Culpado ao acordar, culpado ao entardecer.
Culpado.

Essa sentença fica escrita na consciência de todos nós, pois, todos temos circunstâncias inacabadas, momentos intermináveis que insistem em nos perseguir. Invadem nossos lares, infiltram-se em nossos filhos e tornam-se um ciclo estupidamente vicioso, destruindo sutilmente, tudo o que encontra pelo caminho.

Eu acordo, eu saio.
Mas para onde ir?

Onde se colocar depois de tudo. Há algum lugar ao qual é possível se encaixar, se abrir, tirar a máscara?
Alguns fingem, disfarçam e muito bem, a dor angustiante que lacera suas almas. Mas é tudo vaidade, é tudo vão, estão vazios, ocos, são nada mais do que sepulcros caiados.
Qual é a resposta?
Quem se candidata a oferecer uma solução para esta questão?


Torno-me um exímio conselheiro. Ajudo a todos quantos atravessam meu caminho, sou ponte para várias reconciliações, costuro feridas profundas, choro dores alheias, rio de piadas velhas.
Porque não encontro a resposta para minha dor? Porque mesmo após o perdão, o medo persiste, a dúvida insiste e o peso permanece?

A consequência é imensa, aterradora e inafastável da existência caída. Não obstante, tem-se que continuar, a caminhada exige passos, o caminhante prossegue, alguns conseguem a cura, outros a camuflam, outros ainda permutam suas dores. Não há quem se exima da colheita, pois, em se plantando é certo que se dará.

“Seus pecados estão perdoados! Levanta e anda.”
Já faz um bom tempo que estou andando...

Por,
Ulisses Juliano

quinta-feira, 2 de maio de 2013

QUEM DISSE QUE JESUS VAI VOLTAR?

Várias pessoas me procuram, questionando-me qual a melhor doutrina sobre o arrebatamento. A tese dispensacionalista defendida, principalmente por igrejas arminianas, como por exemplo a Assembléia de Deus, afirma que a 2ª vinda de Cristo ocorrerá antes da grande tribulação, entretanto, há várias teorias adjacentes, ou seja, doutrinas que desenvolvem um raciocínio completamente dispare e que têm fundamentação bíblica.
Que Jesus irá voltar, eu não tenho nenhuma dúvida, a questão é o quando e o como.

Cito alguns exemplos:

I. Há uma linha de pensamento que se chama, teoria preterista, que anuncia o apocalipse como coisa do passado, ou seja, que tudo ocorreu nos anos 70 da era cristã, que as profecias do Novo Testamento já se cumpriram. Nesta teoria Jesus reina desde então. Há três declarações do próprio Jesus que dão base a esta teoria:

     a) “... Porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer todas as cidades de Israel antes que venha o Filho do Homem”. (Mt 10:23)

     b) “Em verdade Eu vos digo que alguns há, dos que aqui se encontram, que de maneira nenhuma passarão pela morte até que vejam vir o Filho do Homem no Seu reino”. (Mt 16:28)

     c) Após proferir o discurso sobre Sua volta Jesus afirma: “Em verdade Eu vos digo que não passará essa geração sem que tudo isso aconteça”. (Mt 24:24)

II. No que diz respeito à grande tribulação existem várias teses que se contradizem, prefiro me ater aqui em três tipos de posições escatológicas mais comumente divulgadas:

     a) Pré tribulacionismo: defendem que a Igreja será arrebatada antes desse período de tribulação, esta é a mais conhecida e aceita atualmente.

          i. “Estas são as palavras daquele que é santo e verdadeiro, que tem a chave de Davi. O que ele abre ninguém pode fechar, e o que ele fecha ninguém pode abrir.Visto que você guardou a minha palavra de exortação à perseverança, eu também o guardarei da hora da provação que está para vir sobre todo o mundo, para pôr à prova os que habitam na terra”. (Ap.3:10)

          ii. "Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda, por meio dele, seremos salvos da ira de Deus!” (Rm.5:9)

          iii. “e esperar dos céus seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livra da ira que há de vir”. (1Ts.1:10)

          iv. “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”. (1Ts 5:9)

     b) Mid tribulacionismo: defendem que a Igreja será arrebatada na metade da grande tribulação, ou seja, três anos e meio após o seu início. Portanto, a igreja participaria do período de “falsa paz” e seria arrebatada quando a “besta” iniciasse a grande tribulação de fato.

          i. “fortalecendo os discípulos e encorajando-os a permanecer na fé, dizendo: É necessário que passemos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus”. (At 14:22)

          ii. “Eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a Terra”. (Ap 3:10)

     c) Pós tribulacionismo: defendem que Cristo voltara no final da tribulação. Sendo assim a Igreja passara pelos sete anos. Alguns defendem q ela será preservada de alguma forma sobrenatural, outros não.

          i. “São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras, e as alvejaram no sangue do Cordeiro”. (Apocalipse 7:14)

          ii. "Se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria; mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados". (Mt 24:22)

          iii. "Imediatamente após a tribulação daqueles dias o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão abalados. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória. E Ele enviará os seus anjos com grande som de trombeta, e estes reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus." (Mt 24:29-31)


Obviamente, usei versículos isolados, não quero esgotar esse assunto e observe bem, que não estou aqui defendendo nenhuma linha de pensamento. Apenas estou expondo linhas de pensamento doutrinário diferentes para que cada um analise e entenda o que lhe couber melhor.
O quando é indiferente para mim, o que me importa é estar pronto para quando Jesus voltar eu seja levado para os céus. MARANATA!

Por,
Ulisses Juliano


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Não deixem de orar pelos nossos pequeninos!


Estou abrindo espaço aqui no meu blog para divulgar um trabalho missionário que está ocorrendo hoje na África.

"Olá manos amados no Caminho da Graça!
Peço que não deixem de orar pelos nossos pequeninos.

...orem pela Imeh. Se vocês se lembram publiquei sobre ela uns 6 meses atrás. Ela havia perdido os pais e sido rejeitada pela família que achava que ela era bruxa. Depois viveu e sofreu maus tratos naquele antigo orfanato dissolvido pelo governo e foi parar na rua. Quando a localizamos ela estava morando com um casal que a usava para vender drogas para eles em troca de um teto.

Pedi que ela saisse dalí e fosse morar na nossa base em Orom e oferecemos colocar ela na escola novamente e lhe dar um futuro. Infelizmente ela não queria ir para nossa base na outra cidade e descobrimos que era porque ela estava namorando um rapaz o qual ela não quis que conhecessemos na ocasião e decidiu que queria continuar morando com aquele casal. De qualquer forma colocamos ela de volta na escola, pagamos registro, uniforme, material,etc e vinhamos a monitorando com regularidade. Mas infelizmente ontem tive uma má notícia. Ela está grávida de dois meses e havia iniciado um processo de aborto e mudando de idéia no último minuto veio nos procurar pedindo ajuda. Ainda ontem ela foi encaminhada para o hospital para exames para ver se ela e o bebê estão bem.

Também esta semana resgatamos mais dois meninos em duas localidades distintas, um chamado Okon e o outro chamado Patrick.

Ainda não tenho fotos deles para compartilhar porque como sempre a internet extremamente lenta não está permitindo o envio de fotos, mas ambos estao muito doentes e também precisamos mandá-los para o hospital para exames. Um foi constatado ter Febre Tifóide e o outro Malária. Compramos os medicamentos e iniciamos o tratamento deles hoje. Eles vão ficar na nossa base junto de nossas outras crianças até conseguirmos localizar suas famílias e tentar o processo de reconciliação, mas ambos já confirmaram que suas famílias os abandonaram longe de casa porque achavam que eles são bruxos.

Enquanto isso, seguimos quase concluindo o processo burocrático para assumirmos o orfanato do James onde o Bobó estava e também mais 50 crianças que ainda vivem sob o risco de morte ou pelo menos de viver o que ele tem vivido.
Por isso peço insistentemente a oração dos irmãos e que permaneçam fiéis em suas doações, porque sem elas nada do que que tem sido feito o seria.

Podem ter certeza que seu amor tem alcançado e salvado vidas e tem sido um privilégio muito grande para nós fazer parte dessa missão e intermediar essa obra do amor.

Um beijo em todos e vou lhe atualizando na medida do possível!

Graça e paz!

Leonardo Rocha"

Para saber mais e ajudar acesse: 
http://caminhonacoes.com/novo/nao-deixem-de-orar-pelos-nossos-pequeninos/

quinta-feira, 4 de abril de 2013

DEUS PROTESTA CONTRA A IGREJA



Anás, sumo sacerdote na época de Jesus e João batista, era extremamente populista e politizado, faz um acordo com Roma - que estava interessada na influência que o sumo sacerdote tinha no Estado de Israel, e decide interferir na indicação do sumo sacerdote -, iniciando assim, uma era de “promiscuidade”, ou seja, quando a religião se mistura com o Estado - fato que se repetiria com mais contundência através do imperador Constantino. Portanto, há uma subversão no templo, na igreja, na religião judaica, que era o lugar da adoração, a casa de oração.

Segundo a Lei de Moisés somente os levitas, da linhagem de Arão, poderiam exercer o cargo de sumo sacerdote, João Batista era o legítimo sumo sacerdote, visto que era filho de Zacarias e Izabel, descendentes diretos de Arão. Não obstante, quando tudo isso estava acontecendo, “veio a palavra de Deus a João Batista no deserto.”

Deus mudou de endereço, saiu da igreja e foi para o Deserto.

Como o sumo sacerdote tinha que se vestir com roupas especiais e João Batista não tinha acesso a elas, vestiu-se de couro de camelo. Como, também, não poderia comer o pão da proposição e a carne dos cordeiros sacrificados, João se alimentava de mel silvestre e gafanhotos.

Esse é o protesto de Deus contra a subversão em Sua casa.

No deserto, João Batista começa a anunciar o Reino de Deus. Que é muito maior do que a religião, a igreja, os Estados e os costumes. Essa mensagem é ratificada por Jesus, quando afirma que devemos buscar primeiro o reino dos céus.

João, portanto, vem como sumo sacerdote anunciar o cordeiro pascal que seria imolado em sacrifício por toda a humanidade. Esse era o papel do sumo sacerdote, mas Deus não tinha mais sumo sacerdote no templo, visto que este prestava serviço aos romanos, contudo, Deus protesta contra essa realidade e leva Jesus para ser batizado pelo verdadeiro sumo sacerdote, pela voz do que clama no deserto.

Deus sempre fala, sempre se posiciona, só não o ouve e não enxerga quem não tem o Espírito.

Por,

Ulisses Juliano

segunda-feira, 1 de abril de 2013

POR QUE COISAS RUINS ACONTECEM COMIGO?


Desde pequenos, aprendemos que nossos alicerces estão na Palavra, e esta nos garante que se orarmos Deus irá atender as nossas necessidades.

A questão é que Deus não faz tudo o que pedimos da maneira que desejaríamos.
Anos podem se passar até entendermos a finalidade de Seus propósitos. Em outras ocasiões, Ele simplesmente diz “não” ou “espere”, e em outras ainda, Ele não diz nada. Todo mundo já passou por isso, a questão se resume em POR QUÊ?

Falta de fé? Oração em pecado? Ira de Deus?

Considere isso: O que aconteceria se Deus fizesse exatamente o que nós pedíssemos a cada instante?
Primeiro os crentes não morreriam, nunca teriam dor de dente, nem pedras nos rins, nem miopia. Em segundo lugar, Todos os seus negócios teriam sucesso e seus lares seriam maravilhosos, etc.
Desta forma, as pessoas procurariam relacionamento com Ele a fim de obter benefícios adicionais e não a fim de serem resgatados do pecado. Isso eliminaria, consequentemente, a necessidade da fé, como Paulo escreveu em Romanos 8:24. 
O fato é que Ele não fará exatamente tudo o que desejamos porque o céu não é aqui, é lá. Se nos fosse dado tudo o que queremos aqui, nosso coração se acomodaria com este mundo em vez do próximo. Deus está sempre nos seduzindo e nos afastando deste mundo, atraindo-nos para Ele e Seu reino eterno, onde, certamente, encontraremos o que tão ansiosamente desejamos.

Nossa fé, portanto, não deve estar ancorada em sinais e milagres, mas no Deus soberano do universo. Ele não atuará no exato momento para nos impressionar. Jesus condenou a todos que queriam que Ele se exibisse com milagres. Ele quer que O aceitemos na ausência de prova. Afinal, nós servimos ao Senhor não porque Ele dança conforme a nossa música, mas porque confiamos em Sua direção em nossa vida.

Sem embargo, Ele deve ser – Ele será – o determinador do que é melhor para nós. Não podemos enxergar o futuro. Não conhecemos o plano dEle. Nós só percebemos uma pequena imagem, e mesmo assim não muito clara. Dada esta limitação, parece arrogante dizer a Deus o que fazer e como fazer, ao invés de expôr as nossas necessidades e depois submeter-nos a Seus divinos propósitos.

Cada um de nós está cheio de falhas e deficiências, que o Senhor podia superar com um sussurro. Mas Ele prefere deixar-nos lutar com nossas fraquezas, para revelar Seu próprio poder usando nossas impropriedades e deficiências para manifestar sua graça a outras pessoas que sofrem e padecem necessidades. Deus quer humanos ministrando a humanos, não super homens.

Por,

Ulisses Juliano

terça-feira, 26 de março de 2013

O QUE ESTÁ RESERVADO PARA NÓS

Imagine o paraíso.
Céu.

Um lugar onde não terá angústias, dívidas, dores, sofrimento, lágrimas ou quaisquer circunstância adversa que nos acometem hoje.

Conseguiu imaginar?

Esse lugar existe, está preparado para nós e os sinais mostram que nossa ida está mais próxima do que nunca.

Pensamento antiquado? Ultrapassado? História da carochinha?

Sei que é preciso fé, contudo, não tenho dúvidas de que existe esse lugar, de que ele está preparado para mim e para você e de que um dia iremos ou não para lá.

Quais são as nossas opções?
Aceitar o convite ou não.
É para todos, não há exceções ou acepções de pessoas, contudo, ninguém é obrigado a aceitar, para quem quiser só há um requisito, tome a sua cruz e siga o Mestre.

Quem tem ouvidos, ouça...

Por,

Ulisses Juliano

segunda-feira, 25 de março de 2013

SEJA O CENTRO

Seja o centro, seja o tudo
Em meu coração, Senhor
Seja a vida em meu peito
Cada dia aqui e eternamente

Jesus, Jesus,
Jesus, Jesus,

Seja o sol que me aquece
Em meu coração, Senhor
Seja a força que me sustenta
Cada dia aqui e eternamente

Jesus, Jesus,
Jesus, Jesus,

Meu tesouro
Minha razão de viver
Meu anseio
É te conhecer
Pois não há outro igual a ti
A quem tenho eu além de ti
És minha vida, és a fonte, Jesus

Jesus, Jesus,
Jesus, Jesus,

Seja o centro, Seja o tudo
Em meu coração, Senhor
Seja a vida em meu peito
Cada dia aqui e eternamente

Jesus, Jesus,
Jesus, Jesus,
Seja o Centro - Diante do Trono





quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

VERDADE - Carlos Drummond de Andrade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.




terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O ÚNICO CAMINHO - Vinícius de Moraes

No tempo em que o Espírito habitava a terra
E em que os homens sentiam na carne a beleza da arte
Eu ainda não tinha aparecido.
Naquele tempo as pombas brincavam com as crianças
E os homens morriam na guerra cobertos de sangue.
Naquele tempo as mulheres davam de dia o trabalho da palha e da lã
E davam de noite, ao homem cansado, a volúpia amorosa do corpo.

Eu ainda não tinha aparecido.

No tempo que vinham mudando os seres e as coisas
Chegavam também os primeiros gritos da vinda do homem novo
Que vinha trazer à carne um novo sentido de prazer
E vinha expulsar o Espírito dos seres e das coisas.

Eu já tinha aparecido.

No caos, no horror, no parado, eu vi o caminho que ninguém via
O caminho que só o homem de Deus pressente na treva.
Eu quis fugir da perdição dos outros caminhos
Mas eu caí.
Eu não tinha como o homem de outrora a força da luta
Eu não matei quando devia matar
Eu cedi ao prazer e à luxúria da carne do mundo.
Eu vi que o caminho se ia afastando da minha vista
Se ia sumindo, ficando indeciso, desaparecendo.
Quis andar para a frente.
Mas o corpo cansado tombou ao beijo da última mulher que ficara.

Mas não.
Eu sei que a Verdade ainda habita minha alma
E a alma que é da Verdade é como a raiz que é da terra.
O caminho fugiu dos olhos do meu corpo
Mas não desapareceu dos olhos do meu espírito
Meu espírito sabe...

Ele sabe que longe da carne e do amor do mundo
Fica a longa vereda dos destinados do profeta.
Eu tenho esperanças, Senhor.
Na verdade o que subsiste é o forte que luta
O fraco que foge é a lama que corre do monte para o vale.
A águia dos precipícios não é do beiral das casas
Ela voa na tempestade e repousa na bonança.
Eu tenho esperanças, Senhor.
Tenho esperanças no meu espírito extraordinário
E tenho esperança na minha alma extraordinária.
O filho dos homens antigos
Cujo cadáver não era possuído da terra
Há de um dia ver o caminho de luz que existe na treva
E então, Senhor
Ele há de caminhar de braços abertos, de olhos abertos
Para o profeta que a sua alma ama mas que seu espírito ainda não possuiu.

Extraído do livro: "O Caminho para a distância". - Rio de Janeiro. Ed. Schmidt - 1933

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O Paradigma: Tornando-nos Mais Semelhantes a Cristo - John Stott


Sermão pregado na Convenção de Keswick em 17 de julho de 2007. 
A última ministração de John Stott.

Lembro-me muito claramente de que há vários anos, sendo um cristão ainda jovem, a questão que me causava perplexidade (e a alguns amigos meus também) era esta: Qual é o propósito de Deus para o seu povo? Uma vez que tenhamos nos convertido, uma vez que tenhamos sido salvos e recebido vida nova em Jesus Cristo, o que vem depois? É claro que conhecíamos a famosa declaração do Breve Catecismo de Westminster: “O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre”. Sabíamos disso e críamos nisso. Também refletíamos sobre algumas declarações mais breves, como uma de apenas sete palavras: “Ama a Deus e ao teu próximo”. Mas de algum modo, nenhuma delas, nem outra que pudéssemos citar, parecia plenamente satisfatória. Portanto, quero compartilhar com vocês o entendimento que pacificou minha mente à medida que me aproximo do final de minha peregrinação neste mundo. Esse entendimento é: Deus quer que seu povo se torne semelhante a Cristo. A vontade de Deus para o seu povo é que sejamos conformes à imagem de Cristo.
Sendo isso verdade, quero propor o seguinte: em primeiro lugar, demonstrarmos a base bíblica do chamado para sermos conformes à imagem de Cristo; em segundo, extrairmos do Novo Testamento alguns exemplos; em terceiro, tirarmos algumas conclusões práticas a respeito. Tudo isso relacionado a nos assemelharmos a Cristo.
Então, vejamos primeiro a base bíblica do chamado para sermos semelhantes a Cristo. Essa base não se limita a uma passagem só. Seu conteúdo é substancial demais para ser encapsulado em um único texto. De fato, essa base consiste de três textos, os quais, aliás, faríamos muito bem em incorporar conjuntamente à nossa vida e visão cristã: Romanos 8:29, 2 Coríntios 3:18 e 1 João 3:2. Vamos fazer uma breve análise deles.
Romanos 8:29 diz que Deus predestinou seu povo para ser conforme à imagem do Filho, ou seja, tornar-se semelhante a Jesus. Todos sabemos que Adão, ao cair, perdeu muito — mas não tudo — da imagem divina conforme a qual fora criado. Deus, todavia, a restaurou em Cristo. Conformar-se à imagem de Deus significa tornar-se semelhante a Jesus: O propósito eterno de predestinação divina para nós é tornar-nos conformes à imagem de Cristo.
O segundo texto é 2 Coríntios 3:18: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Portanto é pelo próprio Espírito que habita em nós que somos transformados de glória em glória — que visão magnífica! Nesta segunda etapa do processo de conformação à imagem de Cristo, percebemos que a perspectiva muda do passado para o presente, da predestinação eterna de Deus para a transformação que ele opera em nós agora pelo Espírito Santo. O propósito eterno da predestinação divina de nos tornar como Cristo avança, tornando-se a obra histórica de Deus em nós para nos transformar, por intermédio do Espírito Santo, segundo a imagem de Jesus.
Isso nos leva ao terceiro texto: 1 João 3:2: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”. Não sabemos em detalhes como seremos no último dia, mas o que de fato sabemos é que seremos semelhantes a Cristo. Não precisamos saber de mais nada além disso. Contentamo-nos em conhecer a verdade maravilhosa de que estaremos com Cristo e seremos semelhantes a ele, eternamente.
Aqui há três perspectivas: passado, presente e futuro. Todas apontam na mesma direção: há o propósito eterno de Deus, pelo qual fomos predestinados; há o propósito histórico de Deus, pelo qual estamos sendo transformados pelo Espírito Santo; e há o propósito final ou escatológico de Deus, pelo qual seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. Estes três propósitos — o eterno, o histórico e o escatológico — se unem e apontam para um mesmo objetivo: a conformação do homem à imagem de Cristo. Este, afirmo, é o propósito de Deus para o seu povo. E a base bíblica para nos tornarmos semelhantes a Cristo é o fato de que este é o propósito de Deus para o seu povo.
Prosseguindo, quero ilustrar essa verdade com alguns exemplos do Novo Testamento. Em primeiro lugar, creio ser importante que nós façamos uma afirmação abrangente como a do apóstolo João em 1 João 2:6: “Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou”. Em outras palavras, se nos dizemos cristãos, temos de ser semelhantes a Cristo. Este é o primeiro exemplo do Novo Testamento: temos de ser como o Cristo Encarnado.
Alguns de vocês podem ficar horrorizados com essa idéia e rechaçá-la de imediato. “Ora”, me dirão, “não é óbvio que a Encarnação foi um evento absolutamente único, não sendo possível reproduzi-lo de modo algum?” Minha resposta é sim e não. Sim, foi único no sentido de que o Filho de Deus revestiu-se da nossa humanidade em Jesus de Nazaré, uma só vez e para sempre, o que jamais se repetirá. Isso é verdade. Contudo, há outro sentido no qual a Encarnação não foi um evento único: a maravilhosa graça de Deus manifestada na Encarnação de Cristo deve ser imitada por todos nós. Nesse sentido, a Encarnação não foi única, exclusiva, mas universal. Somos todos chamados a seguir o supremo exemplo de humildade que ele nos deu ao descer dos céus para a terra. Por isso Paulo diz em Filipenses 2:5-8: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz”. Precisamos ser semelhantes a Cristo em sua Encarnação no que diz respeito à sua admirável humildade, uma humilhação auto-imposta que está por trás da Encarnação.
Em segundo lugar, precisamos ser semelhantes a Cristo em sua prontidão em servir. Agora, passemos de sua Encarnação à sua vida de serviço; de seu nascimento à sua vida; do início ao fim. Quero convidá-los a subir comigo ao cenáculo onde Jesus passou sua última noite com os discípulos, conforme vemos no evangelho de João, capítulo 13: “Tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido”. Ao terminar, retomou seu lugar e disse-lhes: “Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo” — note-se a palavra — “para que, como eu vos fiz, façais vós também”.
Há cristãos que interpretam literalmente esse mandamento de Jesus e fazem a cerimônia do lavapés em dia de Ceia do Senhor ou na Quinta-feira Santa — e podem até estar certos em fazê-lo. Porém, vejo que a maioria de nós fez apenas uma transposição cultural do mandamento de Jesus: aquilo que Jesus fez, que em sua cultura era função de um escravo, nós reproduzimos em nossa cultura sem levarmos em conta que nada há de humilhante ou degradante em o fazermos uns pelos outros.
Em terceiro lugar, temos de ser semelhantes a Cristo em seu amor. Isso me lembra especificamente Efésios 5:2: “Andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave”. Observe que o texto se divide em duas partes. A primeira fala de andarmos em amor, um mandamento no sentido de que toda a nossa conduta seja caracterizada pelo amor, mas a segunda parte do versículo diz que ele se entregou a si mesmo por nós, descrevendo não uma ação contínua, mas um aoristo, um tempo verbal passado, fazendo uma clara alusão à cruz. Paulo está nos conclamando a sermos semelhantes a Cristo em sua morte, a amarmos com o mesmo amor que, no Calvário, altruistamente se doa.
Observe a idéia que aqui se desenvolve: Paulo está nos instando a sermos semelhantes a Cristo na Encarnação, ao Cristo que lava os pés dos irmãos e ao Cristo crucificado. Esses três acontecimentos na vida de Cristo nos mostram claramente o que significa, na prática, sermos conformes à imagem de Cristo.
Em quarto lugar, temos de ser semelhantes a Cristo em sua abnegação paciente. No exemplo a seguir, consideraremos não o ensino de Paulo, mas o de Pedro. Cada capítulo da primeira carta de Pedro diz algo sobre sofrermos como Cristo, pois a carta tem como pano de fundo histórico o início da perseguição. Especialmente no capítulo 2 de 1 Pedro, os escravos cristãos são instados a, se castigados injustamente, suportarem e não retribuírem o mal com o mal. E Pedro prossegue dizendo que para isto mesmo fomos chamados, pois Cristo também sofreu, deixando-nos o exemplo — outra vez a mesma palavra — para seguirmos os seus passos. Este chamado para sermos semelhantes a Cristo em meio ao sofrimento injusto pode perfeitamente se tornar cada vez mais significativo à medida que as perseguições se avolumam em muitas culturas do mundo atual.
No quinto e último exemplo que quero extrair do Novo Testamento, precisamos ser semelhantes a Cristo em sua missão. Tendo examinado os ensinos de Paulo e de Pedro, veremos agora os ensinos de Jesus registrados por João. Em João 17:18, Jesus, orando, diz: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo”, referindo-se a nós. E na Comissão, em João 20:21, Jesus diz: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio”. Estas palavras carregam um significado imensamente importante. Não se trata apenas da versão joanina da Grande Comissão; é também uma instrução no sentido de que a missão dos discípulos no mundo deveria ser semelhante à do próprio Cristo. Em que aspecto? Nestes textos, as palavras-chave são “envio ao mundo”. Do mesmo modo como Cristo entrou em nosso mundo, nós também devemos entrar no “mundo” das outras pessoas. É como explicou, com muita propriedade, o Arcebispo Michael Ramsey há alguns anos: “Somente à medida que sairmos e nos colocarmos, com compaixão amorosa, do lado de dentro das dúvidas do duvidoso, das indagações do indagador e da solidão do que se perdeu no caminho é que poderemos afirmar e recomendar a fé que professamos”.
Quando falamos em “evangelização encarnacional” é exatamente disto que falamos: entrar no mundo do outro. Toda missão genuína é uma missão encarnacional. Temos de ser semelhantes a Cristo em sua missão. Estas são as cinco principais formas de sermos conformes à imagem de Cristo: em sua Encarnação, em seu serviço, em seu amor, em sua abnegação paciente e em sua missão.
Quero, de modo bem sucinto, falar de três conseqüências práticas da assemelhação a Cristo. Primeira: A assemelhação a Cristo e o sofrimento. Por si só, o tema do sofrimento é bem complexo, e os cristãos tentam compreendê-lo de variados pontos de vista. Um deles se sobressai: aquele segundo o qual o sofrimento faz parte do processo da transformação que Deus faz em nós para nos assemelharmos a Cristo. Seja qual for a natureza do nosso sofrimento — uma decepção, uma frustração ou qualquer outra tragédia dolorosa —, precisamos tentar enxergá-lo à luz de Romanos 8:28-29. Romanos 8:28 diz que Deus está continuamente operando para o bem do seu povo, e Romanos 8:29 revela que o seu bom propósito é nos tornar semelhantes a Cristo.
Segunda: A assemelhação a Cristo e o desafio da evangelização. Provavelmente você já se perguntou: “Por que será que, até onde percebo, em muitas situações os nossos esforços evangelísticos freqüentemente terminam em fracasso?” As razões podem ser várias e não quero ser simplista, mas uma das razões principais é que nós não somos parecidos com o Cristo que anunciamos. John Poulton, que abordou o tema num livreto muito pertinente, intitulado A Today Sort of Evangelism, escreveu:
“A pregação mais eficaz provém daqueles que vivem conforme aquilo que dizem. Eles próprios são a mensagem. Os cristãos têm de ser semelhantes àquilo que falam. A comunicação acontece fundamentalmente a partir da pessoa, não de palavras ou idéias. É no mais íntimo das pessoas que a autenticidade se faz entender; o que agora se transmite com eficácia é, basicamente, a autenticidade pessoal”.
Isto é assemelhar-se à imagem de Cristo. Permitam-me dar outro exemplo. Havia um professor universitário hindu na Índia que, certa vez, identificando que um de seus alunos era cristão, disse-lhe: “Se vocês, cristãos, vivessem como Jesus Cristo viveu, a Índia estaria aos seus pés amanhã mesmo”. Eu penso que a Índia já estaria aos seus pés hoje mesmo se os cristãos vivessem como Jesus viveu. Oriundo do mundo islâmico, o Reverendo Iskandar Jadeed, árabe e ex-muçulmano, disse: “Se todos os cristãos fossem cristãos — isto é, semelhantes a Cristo —, hoje o islã não existiria mais”.
Isto me leva ao terceiro ponto: Assemelhação a Cristo e presença do Espírito Santo em nós. Nesta noite falei muito sobre assemelhação a Cristo, mas será que ela é alcançável? Por nossas próprias forças é evidente que não, mas Deus nos deu seu Santo Espírito para habitar em nós e nos transformar de dentro para fora. William Temple, que foi arcebispo na década de 40, costumava ilustrar este ponto falando sobre Shakespeare:
“Não adianta me darem uma peça como Hamlet ou O Rei Lear e me mandarem escrever algo semelhante. Shakespeare era capaz, eu não. Também não adianta me mostrarem uma vida como a de Jesus e me mandarem viver de igual modo. Jesus era capaz, eu não. Porém, se o gênio de Shakespeare pudesse entrar e viver em mim, então eu seria capaz de escrever peças como as dele. E se o Espírito Santo puder entrar e habitar em mim, então eu serei capaz de viver uma vida como a de Jesus”.

Para concluir, um breve resumo do que tentamos pensar juntos aqui hoje: O propósito de Deus é nos tornar semelhantes a Cristo. O modo como Deus nos torna conformes à imagem de Cristo é enchendo-nos do seu Espírito. Em outras palavras, a conclusão é de natureza trinitária, pois envolve o Pai, o Filho e o Espírito Santo. 


sábado, 9 de fevereiro de 2013

QUEM QUER SEGUIR JESUS?


Jesus era um tipo de líder incomparável.
Ele não era apenas um pregador, Ele era um líder fascinante. Quando Jesus falava as pessoas o seguiam até para o deserto. 


Ele não escreveu sequer um livro, não erigiu um pilar, não mudou para Roma e nem para Atenas ou mesmo para Jerusalém. Nunca buscou impressionar os filósofos gregos ou os senadores romanos e nem tampouco sistematizou um ensino para ser decorado ou aprendido por seus seguidores. Pelo contrário, escolheu andar com gente que não formava opinião, não era conhecida, não tinha berço, e não agia no meio político ou religioso. 

O Rev. Caio Fábio disse acertadamente: "Ele fez como o Pai: Do que estava sem forma e vazio Ele iniciou o reino!"

Atualmente em várias igrejas você vai ouvir os "líderes" dizendo: "sigam-me que tudo te irá bem;" ou, "sigam-me que você será próspero;". Contudo, essa nunca foi a promessa do evangelho e provavelmente em algum momento da caminhada você se questionou: "Eu pensei que se seguisse Jesus acabariam meus problemas." O religioso busca a Deus porque tem medo de ir para o inferno, mas um filho busca o Pai porque não suporta a ideia de ficar longe dEle! 

Jesus tinha uma mensagem diferente: "Tome sua cruz e siga-me" ou "Deixe sua mãe, seu pai e seus irmãos e sigam-me por onde eu for". Neste convite Jesus interage com você e sem você perceber Ele está agindo, te protegendo, te guardando, te guiando. Não são as coisas que Ele fez que você viu que são os verdadeiros milagres, mas os grandes milagres acontecem todos os dias, o maná cai na sua porta todas as manhãs, mesmo sem você pedir.

Agradeça a Ele pelo namorado que ficou e por aquele que foi embora. Agradeça pelas portas que se abriram e pelas que permaneceram fechadas. Agradeça pelas pessoas que partiram e pelas que ficaram. Pelos seus líderes, seus amigos, sua família, sua igreja, sua vida, de onde você veio e onde está hoje.
Agradeça a Deus por aquilo que você não pode contar pra ninguém, coisas que só você e Ele sabem. 

Ele te ama e isso é tudo que você precisa para prosseguir. Leve isso a sério, pois é assim que é.

Por,

Ulisses Juliano


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

QUANDO EU OLHO EM SEUS OLHOS



Diana Krall tem o poder de nos remeter com sua voz grave e firme aos mais remotos lugares de nossa mente e experimentar circunstâncias diversas. 
Foi assim que fiquei quando ouvi essa música pela primeira vez... 

Leia, depois ouça... 



"quando eu olho em seus olhos
vejo a sabedoria do mundo

vejo a tristeza de mil despedidas
e isso não é surpresa
para ver a suavidade da lua em seus olhos

e a delicadeza das estrelas em seu olhar
quando eu olho em seus olhos
em seus olhos eu vejo a profundidade do mar
eu vejo a profundidade do amor
do amor que sentimos um pelo outro
o outono vem, o verão morre
eu vejo o passar dos anos em seus olhos
e quando nos afastarmos
não haverá lágrimas nem despedidas
eu só vou olhar nos seus olhos
aqueles olhos tão sábios
aquele olhar tão confortável,tão real
como eu adoro o mundo que seus olhos revelam"
 

sábado, 26 de janeiro de 2013

O MISTÉRIO DO EVANGELHO


“Como está escrito: Deus lhes deu espírito de entorpecimento, olhos para não ver e ouvidos para não ouvir, até ao dia de hoje. E diz Davi: Torne-se-lhes a mesa em laço e armadilha, em tropeço e punição; escureçam-se-lhes os olhos, para que não vejam, e fiquem para sempre encurvadas as suas costas. Pergunto, pois: porventura, tropeçaram para que caíssem? De modo nenhum! Mas, pela sua transgressão, veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes. Ora, se a transgressão deles redundou em riqueza para o mundo, e o seu abatimento, em riqueza para os gentios, quanto mais a sua plenitude!” (Rm 11:8-11)

Mistério, se relaciona com segredos, com algo escondido ou de significado oculto. É um fenômeno que ocorre e não se tem conhecimento de quais as causas, algo que não se pode explicar. Esse texto nos revela um dos mistérios que provocam em nós um senso de temor e reverência pela grandeza do evangelho. 

Jesus pregou, curou, libertou, salvou, perdoou durante três anos em Israel. Todos os seguiam. Ricos, pobres, religiosos, pessoas de culturas diferentes, religiões diversas, todos o ouviam e o respeitavam, mas os sacerdotes simplesmente não o enxergavam. Israel passou toda sua história esperando o Messias, contudo, quando Ele chegou não o reconheceram. Todos os cultos, os sacrifícios, as leituras, os estudos eram feitos esperando por Jesus, mas eles simplesmente não O enxergaram quando Ele veio.Não faz sentido e Deus não deixou explicações.

Nossa primeira tentação é de acusá-los de ignorantes, de corruptos e de legalistas por não enxergarem o óbvio que estavam diante de seus olhos. Não obstante, Paulo nos revela que não é tão simples assim, pois, “Deus cegou-lhes o entendimento!”

A nação esperou milênios pelo Messias e o próprio Deus impediu-lhes de enxergá-Lo. Não faz sentido quando lemos que o próprio sumo-sacerdote entregou o seu Messias, o seu redentor para ser sacrificado. 

Esse é um mistério que nos leva ao temor e embala-nos na grandeza do evangelho. Esse mistério é marcado por um sacrifício indescritível que nos cala fazendo-nos reverenciar o amor de Deus reconhecendo Sua glória.

O evangelho é um convite ao mistério, não há uma explicação lógica, simplesmente aceitamos pela fé que Deus havia planejado nos amar e não mediu nenhum esforço para demonstrar ao mundo a intensidade do Seu sentimento.

Experimente crer!

Por,
Ulisses Juliano

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

11.000 ACESSOS


11.000 ACESSOS NO BLOG!!!

O google me avisou que meu blog já passou a marca dos 11.000 acessos. Mesmo sem atualizar tanto quanto gostaria a frequência está muito boa.

Obrigado a todos que já passaram por aqui e por aqueles que sempre voltam.
Abraços

Ulisses Juliano

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A IGREJA DO DIABO (Machado de Assis)

CAPÍTULO I


DE UMA IDÉIA MIRÍFICA

Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a idéia de fundar uma igreja. Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. Nada fixo, nada regular. Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez.
- Vá, pois, uma igreja, concluiu ele. Escritura contra Escritura, breviário contra breviário. Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo universal dos espíritos, a minha igreja uma tenda de Abraão. E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha igreja será única; não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero. Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo.
Dizendo isto, o Diabo sacudiu a cabeça e estendeu os braços, com um gesto magnífico e varonil. Em seguida, lembrou-se de ir ter com Deus para comunicar-lhe a idéia, e desafiá-lo; levantou os olhos, acesos de ódio, ásperos de vingança, e disse consigo: - Vamos, é tempo. E rápido, batendo as asas, com tal estrondo que abalou todas as províncias do abismo, arrancou da sombra para o infinito azul.

II
ENTRE DEUS E O DIABO

Deus recolhia um ancião, quando o Diabo chegou ao céu. Os serafins que engrinaldavam o recém-chegado, detiveram-no logo, e o Diabo deixou-se estar à entrada com os olhos no Senhor.
- Que me queres tu? perguntou este.
- Não venho pelo vosso servo Fausto, respondeu o Diabo rindo, mas por todos os Faustos do século e dos séculos.
- Explica-te.
- Senhor, a explicação é fácil; mas permiti que vos diga: recolhei primeiro esse bom velho; dai-lhe o melhor lugar, mandai que as mais afinadas cítaras e alaúdes o recebam com os mais divinos coros...
- Sabes o que ele fez? perguntou o Senhor, com os olhos cheios de doçura.
- Não, mas provavelmente é dos últimos que virão ter convosco. Não tarda muito que o céu fique semelhante a uma casa vazia, por causa do preço, que é alto. Vou edificar uma hospedaria barata; em duas palavras, vou fundar uma igreja. Estou cansado da minha desorganização, do meu reinado casual e adventício. É tempo de obter a vitória final e completa. E então vim dizer-vos isto, com lealdade, para que me não acuseis de dissimulação... Boa idéia, não vos parece?
- Vieste dizê-la, não legitimá-la, advertiu o Senhor,
- Tendes razão, acudiu o Diabo; mas o amor-próprio gosta de ouvir o aplauso dos mestres. Verdade é que neste caso seria o aplauso de um mestre vencido, e uma tal exigência... Senhor, desço à terra; vou lançar a minha pedra fundamental.
- Vai
- Quereis que venha anunciar-vos o remate da obra?
- Não é preciso; basta que me digas desde já por que motivo, cansado há tanto da tua desorganização, só agora pensaste em fundar uma igreja?
O Diabo sorriu com certo ar de escárnio e triunfo. Tinha alguma idéia cruel no espírito, algum reparo picante no alforje da memória, qualquer coisa que, nesse breve instante da eternidade, o fazia crer superior ao próprio Deus. Mas recolheu o riso, e disse:
- Só agora concluí uma observação, começada desde alguns séculos, e é que as virtudes, filhas do céu, são em grande número comparáveis a rainhas, cujo manto de veludo rematasse em franjas de algodão. Ora, eu proponho-me a puxá-las por essa franja, e trazê- las todas para minha igreja; atrás delas virão as de seda pura...
- Velho retórico! murmurou o Senhor.
- Olhai bem. Muitos corpos que ajoelham aos vossos pés, nos templos do mundo, trazem as anquinhas da sala e da rua, os rostos tingem-se do mesmo pó, os lenços cheiram aos mesmos cheiros, as pupilas centelham de curiosidade e devoção entre o livro santo e o bigode do pecado. Vede o ardor, - a indiferença, ao menos, - com que esse cavalheiro põe em letras públicas os benefícios que liberalmente espalha, - ou sejam roupas ou botas, ou moedas, ou quaisquer dessas matérias necessárias à vida... Mas não quero parecer que me detenho em coisas miúdas; não falo, por exemplo, da placidez com que este juiz de irmandade, nas procissões, carrega piedosamente ao peito o vosso amor e uma comenda... Vou a negócios mais altos...
Nisto os serafins agitaram as asas pesadas de fastio e sono. Miguel e Gabriel fitaram no Senhor um olhar de súplica, Deus interrompeu o Diabo.
- Tu és vulgar, que é o pior que pode acontecer a um espírito da tua espécie, replicou-lhe o Senhor. Tudo o que dizes ou digas está dito e redito pelos moralistas do mundo. É assunto gasto; e se não tens força, nem originalidade para renovar um assunto gasto, melhor é que te cales e te retires. Olha; todas as minhas legiões mostram no rosto os sinais vivos do tédio que lhes dás. Esse mesmo ancião parece enjoado; e sabes tu o que ele fez?
- Já vos disse que não.
- Depois de uma vida honesta, teve uma morte sublime. Colhido em um naufrágio, ia salvar-se numa tábua; mas viu um casal de noivos, na flor da vida, que se debatiam já com a morte; deu-lhes a tábua de salvação e mergulhou na eternidade. Nenhum público: a água e o céu por cima. Onde achas aí a franja de algodão?
- Senhor, eu sou, como sabeis, o espírito que nega.
- Negas esta morte?
- Nego tudo. A misantropia pode tomar aspecto de caridade; deixar a vida aos outros, para um misantropo, é realmente aborrecê-los...
- Retórico e sutil! exclamou o Senhor. Vai; vai, funda a tua igreja; chama todas as virtudes, recolhe todas as franjas, convoca todos os homens... Mas, vai! vai!
Debalde o Diabo tentou proferir alguma coisa mais. Deus impusera-lhe silêncio; os serafins, a um sinal divino, encheram o céu com as harmonias de seus cânticos. O Diabo sentiu, de repente, que se achava no ar; dobrou as asas, e, como um raio, caiu na terra.


III
A BOA NOVA AOS HOMENS

Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto. Deu-se pressa em enfiar a cogula beneditina, como hábito de boa fama, e entrou a espalhar uma doutrina nova e extraordinária, com uma voz que reboava nas entranhas do século. Ele prometia aos seus discípulos e fiéis as delícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos. Confessava que era o Diabo; mas confessava-o para retificar a noção que os homens tinham dele e desmentir as histórias que a seu respeito contavam as velhas beatas.
- Sim, sou o Diabo, repetia ele; não o Diabo das noites sulfúreas, dos contos soníferos, terror das crianças, mas o Diabo verdadeiro e único, o próprio gênio da natureza, a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos homens. Vede-me gentil a airoso. Sou o vosso verdadeiro pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu desdouro, fazei dele um troféu e um lábaro, e eu vos darei tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo...
Era assim que falava, a princípio, para excitar o entusiasmo, espertar os indiferentes, congregar, em suma, as multidões ao pé de si. E elas vieram; e logo que vieram, o Diabo passou a definir a doutrina. A doutrina era a que podia ser na boca de um espírito de negação. Isso quanto à substância, porque, acerca da forma, era umas vezes sutil, outras cínica e deslavada.
Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser substituídas por outras, que eram as naturais e legítimas. A soberba, a luxúria, a preguiça foram reabilitadas, e assim também a avareza, que declarou não ser mais do que a mãe da economia, com a diferença que a mãe era robusta, e a filha uma esgalgada. A ira tinha a melhor defesa na existência de Homero; sem o furor de Aquiles, não haveria a Ilíada: "Musa, canta a cólera de Aquiles, filho de Peleu"... O mesmo disse da gula, que produziu as melhores páginas de Rabelais, e muitos bons versos do Hissope; virtude tão superior, que ninguém se lembra das batalhas de Luculo, mas das suas ceias; foi a gula que realmente o fez imortal. Mas, ainda pondo de lado essas razões de ordem literária ou histórica, para só mostrar o valor intrínseco daquela virtude, quem negaria que era muito melhor sentir na boca e no ventre os bons manjares, em grande cópia, do que os maus bocados, ou a saliva do jejum? Pela sua parte o Diabo prometia substituir a vinha do Senhor, expressão metafórica, pela vinha do Diabo, locução direta e verdadeira, pois não faltaria nunca aos seus com o fruto das mais belas cepas do mundo. Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas; virtude preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e ao próprio talento.
As turbas corriam atrás dele entusiasmadas. O Diabo incutia-lhes, a grandes golpes de eloqüência, toda a nova ordem de coisas, trocando a noção delas, fazendo amar as perversas e detestar as sãs.
Nada mais curioso, por exemplo, do que a definição que ele dava da fraude. Chamava-lhe o braço esquerdo do homem; o braço direito era a força; e concluía: muitos homens são canhotos, eis tudo. Ora, ele não exigia que todos fossem canhotos; não era exclusivista. Que uns fossem canhotos, outros destros; aceitava a todos, menos os que não fossem nada. A demonstração, porém, mais rigorosa e profunda, foi a da venalidade. Um casuísta do tempo chegou a confessar que era um monumento de lógica. A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no obscuro e no contraditório. Pois não há mulheres que vendem os cabelos? não pode um homem vender uma parte do seu sangue para transfundi-lo a outro homem anêmico? e o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um privilégio que se nega ao caráter, à porção moral do homem? Demonstrando assim o princípio, o Diabo não se demorou em expor as vantagens de ordem temporal ou pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o exercício de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente. E descia, e subia, examinava tudo, retificava tudo. Está claro que combateu o perdão das injúrias e outras máximas de brandura e cordialidade. Não proibiu formalmente a calúnia gratuita, mas induziu a exercê-la mediante retribuição, ou pecuniária, ou de outra espécie; nos casos, porém, em que ela fosse uma expansão imperiosa da força imaginativa, e nada mais, proibia receber nenhum salário, pois equivalia a fazer pagar a transpiração. Todas as formas de respeito foram condenadas por ele, como elementos possíveis de um certo decoro social e pessoal; salva, todavia, a única exceção do interesse. Mas essa mesma exceção foi logo eliminada, pela consideração de que o interesse, convertendo o respeito em simples adulação, era este o sentimento aplicado e não aquele.
Para rematar a obra, entendeu o Diabo que lhe cumpria cortar por toda a solidariedade humana. Com efeito, o amor do próximo era um obstáculo grave à nova instituição. Ele mostrou que essa regra era uma simples invenção de parasitas e negociantes insolváveis; não se devia dar ao próximo senão indiferença; em alguns casos, ódio ou desprezo. Chegou mesmo à demonstração de que a noção de próximo era errada, e citava esta frase de um padre de Nápoles, aquele fino e letrado Galiani, que escrevia a uma das marquesas do antigo regímen: "Leve a breca o próximo! Não há próximo!" A única hipótese em que ele permitia amar ao próximo era quando se tratasse de amar as damas alheias, porque essa espécie de amor tinha a particularidade de não ser outra coisa mais do que o amor do indivíduo a si mesmo. E como alguns discípulos achassem que uma tal explicação, por metafísica, escapava à compreensão das turbas, o Diabo recorreu a um apólogo: - Cem pessoas tomam ações de um banco, para as operações comuns; mas cada acionista não cuida realmente senão nos seus dividendos: é o que acontece aos adúlteros. Este apólogo foi incluído no livro da sabedoria.


IV
FRANJAS E FRANJAS

A previsão do Diabo verificou-se. Todas as virtudes cuja capa de veludo acabava em franja de algodão, uma vez puxadas pela franja, deitavam a capa às urtigas e vinham alistar-se na igreja nova. Atrás foram chegando as outras, e o tempo abençoou a instituição. A igreja fundara-se; a doutrina propagava-se; não havia uma região do globo que não a conhecesse, uma língua que não a traduzisse, uma raça que não a amasse. O Diabo alçou brados de triunfo.
Um dia, porém, longos anos depois, notou o Diabo que muitos dos seus fiéis, às escondidas, praticavam as antigas virtudes. Não as praticavam todas, nem integralmente, mas algumas, por partes, e, como digo, às ocultas. Certos glutões recolhiam-se a comer frugalmente três ou quatro vezes por ano, justamente em dias de preceito católico; muitos avaros davam esmolas, à noite, ou nas ruas mal povoadas; vários dilapidadores do erário restituíam-lhe pequenas quantias; os fraudulentos falavam, uma ou outra vez, com o coração nas mãos, mas com o mesmo rosto dissimulado, para fazer crer que estavam embaçando os outros.
A descoberta assombrou o Diabo. Meteu-se a conhecer mais diretamente o mal, e viu que lavrava muito. Alguns casos eram até incompreensíveis, como o de um droguista do Levante, que envenenara longamente uma geração inteira, e, com o produto das drogas socorria os filhos das vítimas. No Cairo achou um perfeito ladrão de camelos, que tapava a cara para ir às mesquitas. O Diabo deu com ele à entrada de uma, lançou-lhe em rosto o procedimento; ele negou, dizendo que ia ali roubar o camelo de um drogomano; roubou-o, com efeito, à vista do Diabo e foi dá-lo de presente a um muezim, que rezou por ele a Alá. O manuscrito beneditino cita muitas outra descobertas extraordinárias, entre elas esta, que desorientou completamente o Diabo. Um dos seus melhores apóstolos era um calabrês, varão de cinqüenta anos, insigne falsificador de documentos, que possuía uma bela casa na campanha romana, telas, estátuas, biblioteca, etc. Era a fraude em pessoa; chegava a meter-se na cama para não confessar que estava são. Pois esse homem, não só não furtava ao jogo, como ainda dava gratificações aos criados. Tendo angariado a amizade de um cônego, ia todas as semanas confessar-se com ele, numa capela solitária; e, conquanto não lhe desvendasse nenhuma das suas ações secretas, benzia-se duas vezes, ao ajoelhar-se, e ao levantar-se. O Diabo mal pôde crer tamanha aleivosia. Mas não havia duvidar; o caso era verdadeiro.
Não se deteve um instante. O pasmo não lhe deu tempo de refletir, comparar e concluir do espetáculo presente alguma coisa análoga ao passado. Voou de novo ao céu, trêmulo de raiva, ansioso de conhecer a causa secreta de tão singular fenômeno. Deus ouviu-o com infinita complacência; não o interrompeu, não o repreendeu, não triunfou, sequer, daquela agonia satânica. Pôs os olhos nele, e disse:
- Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana.

Fonte: Contos Consagrados - Machado de Assis - Coleção Prestigio - Ediouro - s/d.