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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O ÚNICO CAMINHO - Vinícius de Moraes

No tempo em que o Espírito habitava a terra
E em que os homens sentiam na carne a beleza da arte
Eu ainda não tinha aparecido.
Naquele tempo as pombas brincavam com as crianças
E os homens morriam na guerra cobertos de sangue.
Naquele tempo as mulheres davam de dia o trabalho da palha e da lã
E davam de noite, ao homem cansado, a volúpia amorosa do corpo.

Eu ainda não tinha aparecido.

No tempo que vinham mudando os seres e as coisas
Chegavam também os primeiros gritos da vinda do homem novo
Que vinha trazer à carne um novo sentido de prazer
E vinha expulsar o Espírito dos seres e das coisas.

Eu já tinha aparecido.

No caos, no horror, no parado, eu vi o caminho que ninguém via
O caminho que só o homem de Deus pressente na treva.
Eu quis fugir da perdição dos outros caminhos
Mas eu caí.
Eu não tinha como o homem de outrora a força da luta
Eu não matei quando devia matar
Eu cedi ao prazer e à luxúria da carne do mundo.
Eu vi que o caminho se ia afastando da minha vista
Se ia sumindo, ficando indeciso, desaparecendo.
Quis andar para a frente.
Mas o corpo cansado tombou ao beijo da última mulher que ficara.

Mas não.
Eu sei que a Verdade ainda habita minha alma
E a alma que é da Verdade é como a raiz que é da terra.
O caminho fugiu dos olhos do meu corpo
Mas não desapareceu dos olhos do meu espírito
Meu espírito sabe...

Ele sabe que longe da carne e do amor do mundo
Fica a longa vereda dos destinados do profeta.
Eu tenho esperanças, Senhor.
Na verdade o que subsiste é o forte que luta
O fraco que foge é a lama que corre do monte para o vale.
A águia dos precipícios não é do beiral das casas
Ela voa na tempestade e repousa na bonança.
Eu tenho esperanças, Senhor.
Tenho esperanças no meu espírito extraordinário
E tenho esperança na minha alma extraordinária.
O filho dos homens antigos
Cujo cadáver não era possuído da terra
Há de um dia ver o caminho de luz que existe na treva
E então, Senhor
Ele há de caminhar de braços abertos, de olhos abertos
Para o profeta que a sua alma ama mas que seu espírito ainda não possuiu.

Extraído do livro: "O Caminho para a distância". - Rio de Janeiro. Ed. Schmidt - 1933

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O AMANTE DA MINHA ALMA


“Eu o sustentaria com o trigo mais fino, e o saciaria com o mel que escorre da rocha.” (Sl 81:16)

Asafe é o autor desse salmo, ele me fez perceber a excelência do amor de Deus quando expôs com beleza e simplicidade, como que fazendo cócegas em minha alma, me revelando que esse amor vai além do tempo, pois, “os olhos do Eterno viram meu corpo ainda informe. Os dias que Ele me deu para viver foram todos escritos no Seu livro quando ainda nenhum deles existia.”1

Ele é Senhor de vivos e de mortos, que sou eu para que seja tão amado e desejado nos céus? Me assusto sempre com o amor de Deus. O amor de Deus é uma das poucas realidades que me assustam. E amo esses sustos da graça! Meu Amante é paciente, Ele espera com calma, não se apressa, pois, sabe que seu carinho irá me constranger, de modo que está sempre pronto para manifestar seu amor, agüentando tudo, mesmo as minhas loucuras e devassidões. O Eterno se entrega em amor, em excesso, sem receios, sem limites, sem sujeição ao tempo. Ele apenas me ama e insistem em amar, sem preconceitos ou algum tipo de intolerância, visto que, Ele apenas espera e com calma e mansidão semeando em meu coração a graça da paz que excede qualquer entendimento, me constrangendo a mudar, me moldando a ser melhor.

Dia após dia Suas misericórdias se renovam com generosidade, dando a mim o melhor de Si. O amante da minha alma não faz alardes, não gosta de espetáculos, mas está sempre me surpreendendo graciosamente com sua presença inefável. Ele me revela um amor imensurável, não há lógica, não há barganhas, não há truques, não há testes, de modo que, Seu amor é algo tão profundo e marcante que ignora qualquer recompensa, não há nada que eu possa oferecer, não há um equilíbrio, Ele me ama a ponto de oferecer a própria vida para que eu não sofra. A vontade de Deus nem sempre é a mais gostosa ou a mais fácil de se realizar, entretanto, é a que definitivamente é melhor e me faz bem. Estou orando para que meu Amante seja tudo em mim, para que Ele e não o meu “eu” prevaleça. A cada dia estou me entregando, me libertando de mim.

Não há nada em mim de extraordinário, contudo, essa minha vulnerabilidade expõe que minha estrutura é o pó e que minha natureza é caída. Mesmo assim, a graça do Eterno me constrange a viver e se alimentar da esperança nEle, visto que, Ele é quem supre as minhas necessidades me ensinando como viver pela fé de se estar fundamentado no chão do evangelho, sob a Rocha firme, infalível, imutável, inabalável que me sustém mesmo diante das mais adversas circunstâncias. O apóstolo Paulo assegurou certa vez que “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!”2

O Autor de todas as coisas me ama e me deseja. Ainda há tanto a aprender, há tantos mistérios que Ele irá me revelar, há tanto amor para experimentar que eu simplesmente quero ir além da superficialidade e me entregar totalmente a tal ponto de não ser mais eu quem viva, mas que Ele viva através de mim. Minha vocação é ser tal qual a quem tanto me amou, me ama e eternamente me amará, ao Amante da minha alma.

Por, Ulisses Juliano

1. (Sl 139:16)
2. (Rm 8:38-39)