terça-feira, 31 de agosto de 2010

NINGUÉM DEVE SER DONO DO PRÓPRIO DESTINO


Essa não é uma máxima negativa, pelo contrário, ela é extremamente positiva se analisada sob a óptica do evangelho. Todos nós em determinado momento da vida seremos vitimados pela intolerância de alguém incompreensível, ou por estar inserido numa cultura com tradições absurdamente distorcidas, ou ainda por conviver com seres humanos inescrupulosos e mercenários em todos os sentidos. Não ser dono do seu próprio destino não significa inércia apática, estes vivem isolando-se, não pedem quase nada da vida, não incomodam, não deixam transparecer as angústias de suas almas e isso gera o desespero.

Kierkegaard escreveu em 1849, "O Desespero Humano". Nesta obra, o filósofo procura refletir sobre o significado dos desesperos e como podemos lidar com eles de uma maneira otimizada para a nossa existência. Ele questiona se o desespero advém exclusivamente de acontecimentos externos ou se os nossos desejos desenfreados se transformam em ordem existencial para nossa felicidade. Essa é a situação de quem acha que pode ser dono do próprio destino.
Não era para ser assim.

O que quero dizer com tudo isso?
Quero que você entenda o que Jesus diz: "O vento sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes nem de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito."

Isso significa confiança, implica relacionamento diário sério e maduro. De tal modo que, nossas preocupações deixam de ser o imediato e passam a ser naquilo que repercutirá na eternidade, visto que, não somos mais nós que vivemos, Cristo vive através de nós. Nessa conjuntura alcançaremos a estatura de ter o domínio próprio e decidir o que é felicidade para nós, para quem amamos e não viver de acordo a determinações externas sendo sempre configurado para agradar, para satisfazer algum sistema ou organização seja ela qual for e em qualquer escala.

A questão é deixar de apenas ler essas passagens e trazê-las para nossa existência, para o chão da vida e viver como quem vive no vento, guiado, entregue totalmente à vontade dEle, experimentando as sutilezas da existência confiante de que o meu destino está sendo traçado por Ele e tudo o que eu tenho que fazer é pegar minha cruz e seguir. Jesus explicou a Nicodemos que é necessário fazer uma espécie de "travessia", abandonar o "velho homem" e nascer para viver no Espírito entregando ao Vento o seu futuro, os seus sonhos, os seus planos, o seu destino, ou seja, você reconhece que os pensamentos dEle são maiores do que os teus, que os planos dEle são melhores. Isso muda tudo! Muda como se encara os problemas, muda o modo de se relacionar com os próximos, muda o presente, muda o destino não pela própria força, mas pela graça que se manifesta no dia a dia.

Fernando Pessoa escreveu certa vez "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

É assim que é.

Por, Ulisses Juliano

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

PARA QUEM DESEJA TER SEGURANÇA ESPIRITUAL


Uma arquitetura do pensamento de Paulo sobre o viver com segurança em Cristo.
Ele a faz sem deixar nada do que fosse relevante - tanto à fé quanto à realidade -, de fora de sua analise.

"Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.
Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que era impossível à lei, visto que se achava fraca pela carne, Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança da carne do pecado, e por causa do pecado, na carne condenou o pecado, para que a justa exigência da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.

Pois os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser; e os que estão na carne não podem agradar a Deus.

Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo Jesus há de vivificar também os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita. Portanto, irmãos, somos devedores, não à carne para vivermos segundo a carne; porque se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.

Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.
Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai! O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus; e, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados.

Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Porque a criação aguarda com ardente expectativa a revelação dos filhos de Deus. Porquanto a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que também a própria criação há de ser liberta do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, conjuntamente, geme e está com dores de parto até agora; e não só ela, mas até nós, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, aguardando a nossa adoração, a saber, a redenção do nosso corpo.

Porque na esperança fomos salvos. Ora, a esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos. Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que esquadrinha os corações sabe qual é a intenção do Espírito: que ele, segundo a vontade de Deus, intercede pelos santos. E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.

Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou.

Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica; Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós; quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?

Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor."

Carta de Paulo aos Romanos, capítulo 8.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

DEUS ESTÁ MORTO! NIETZSCHE ESTAVA CERTO



"A Oração ao Deus Desconhecido [Friedrich Nietzsche]
Traduzido por Leonardo Boff

Antes de prosseguir em meu caminho e lançar o meu olhar para frente uma vez mais, elevo, só, minhas mãos a Ti na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em Cada momento, Tua voz me pudesse chamar.
Sobre esses altares estão gravadas em fogo estas palavras:
"Ao Deus desconhecido”.
Seu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos.
Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo.
Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servi-lo.
Eu quero Te conhecer, desconhecido.
Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida.
Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero Te conhecer, quero servir só a Ti."

Todos sabem da famosa citação de Nietzsche: "God is dead!"
Após ler essa oração do filósofo, compreendi que o “Deus” que para Nietzsche morreu foi o “Deus” que já nasceu morto: o “Deus” da religião.
O “Deus” que Nietzsche quis matar tem que morrer mesmo!

Os sacrilégios, as blasfêmias, as irreverências, os grandes templos, as mentiras, as manipulações, as barganhas proferidas em nome de "Deus", são na verdade atuações diabólicas dentro da igreja. Visto que, Deus nunca compactuou com estas atitudes humanas, nunca se sujeitou à vontade humana, até porque Ele fala que "os Seus caminhos não são os nossos caminhos".

Como o apóstolo Paulo nos diz, a Lei, a religião é apenas o "aio" - escravo responsável por levar os filhos dos patrões a determinados lugares -. Entretanto, tenho visto que as manifestações religiosas não querem levar o homem a Deus, pelo contrário, cada uma cria a sua própria divindade que é superior a de outras e assim vários "Jesus" são adorados e idolatrados, sem que o homem ao menos tenha algum relacionamento com Ele.

A maioria das coisas que afirmamos sobre Deus, nada tem a ver com Deus mesmo, mas apenas com nossa pessoal ‘construção de Deus’, tem a ver com o "Deus" de sua confecção psicológica. Esse "Deus não existe", não é o Deus da Palavra. O Deus que se revela através de Jesus conhece sua história, todos os momentos de pecado, de vergonha e de desonestidade que macula seu passado. Sabe que agora neste momento você está com uma fé superficial, uma vida de oração medíocre e não segue a Ele como deveria. Entretanto, Ele está sempre te desafiando a confiar que te ama do jeito que você é, e não do jeito que deveria ser.

Ulisses Juliano

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

LEI DA FICHA LIMPA É UM RISCO



Políticos corruptos são sempre ameaças aos cofres públicos e ao Estado de Direito. É sabido que são nocivos ao sistema e percebemos a cada dia que são criativos em perverter. Entretanto, como qualquer outro cidadão a eles cabem todos os direitos e os deveres prescritos em nossa constituição. Não obstante, a Lei Complementar 135 “Ficha Limpa”, está promovendo sentença condenatória retroativa. Ou seja, o cidadão antes de trânsito em julgado, é condenado.

Por mais que pareça extremamente interessante a impugnação da candidatura do governador Joaquim Roriz, abre-se um precedente nesse fato, visto que, a lei é posterior a sua decisão de renúncia ao Senado (04/07/2007). Naquela conjuntura era direito de todo e qualquer parlamentar renunciar por qualquer motivo que desejasse, portanto, ser condenado agora é aplicar uma pena que retroage para punir. Uma Lei não pode prejudicar os cidadãos no exercício de seus direitos, pois, se assim for, não há estabilidade e por conseguinte, gera-se a incerteza nas relações jurídicas instaurando o caos.

Um exemplo simples para que fique bem claro a situação: Uma lei é publicada hoje aferindo que nenhuma mulher com o cabelo vermelho possa exercer um cargo público. Veja bem, essa Lei não pode atingir àquelas que já haviam pintado o cabelo antes da data da publicação da Lei, ou àquelas que naturalmente possuem cabelos vermelhos, visto que, elas tinham todo o direito de pintá-los ou mantê-los assim antes de tal regramento. A partir da data da publicação é totalmente aceitável que esse requisito seja respeitado. Com esse exemplo simples talvez seja mais claro entender o que aconteceu com a LCP 135. Ela foi interpretada pelo TSE para atingir a todos os que possam ser relacionados em seu texto mesmo antes de sua publicação, ou seja, não há como coadunar com nossa Constituição, é retroagir para punir de forma arbitrária e sumária. Concordo com o ex Ministro do STF Dr. Eros Grau, quando diz: "Estou convencido de que a Lei Complementar 135 é francamente, deslavadamente inconstitucional."

Veja bem, não sou favorável à candidatura de Joaquim Roriz, e por mais que deseje que ele não seja eleito, não posso confundir as coisas. Mesmo que os propósitos sejam bons, o princípio constitucional não pode ser ferido, pois, como me afirmou o Dr. Alexandre Budib, professor de Direito Civil "se aceito que a Lei seja relaxada para punir maus elementos – que é o caso dos “fichas sujas” –, cria-se o precedente que justificará o relaxamento da mesma Lei para punir também os bons."

Essa interpretação do TSE é absurda e inconstitucional. É preciso pensar em todas as possibilidades jurídicas que desta lacuna na Constituição podem advir, mesmo porque a abrangência desta Lei pode e irá abrir precedentes para novas interpretações e outros princípios podem ser feridos. Não se pode trabalhar com exceções, a Carta Magna nos diz que para se punir alguém todo o rito processual deve ser observado.

Concluo com uma citação de Maria Helena Diniz: "O princípio da irretroatividade tanto se aplica ao julgador quanto ao legislador e esta é a regra, no silêncio da lei; entretanto poderá retroagir, se estiver expressa e não ferir direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada."

Por, Ulisses Juliano

sábado, 7 de agosto de 2010

PARA QUEM DESEJA DESEJA SER O MELHOR


Sonhos, planos, projetos, desejos e sucesso. Esse é o script de muitas vidas. Queremos ser notados e reconhecidos por nosso árduo empenho e em prol de nossos projetos vivemos uma vida vazia, focada no futuro, no que há de vir, no amanhã. Sempre querendo estar na frente, desejando constantemente aparecer.

Mel silvestre e gafanhotos, este era o menu para o maior profeta de todos os tempos. E este (João Batista), tinha uma frase simples: “importa que Ele cresça e que eu diminua!”

É interessante como hoje pervertemos as coisas, como queremos crescer para fazer Ele aparecer, como queremos ajudar o Espírito Santo a realizar aquilo que somente Ele tem condições de fazer. Intentamos preparar uma mensagem para sacudir a igreja, desejamos cantar para salvar milhões de pessoas, fundar um novo estilo de evangelhismo e criar, desenvolver, produzir para que as pessoas nos vejam e em nos vendo creiam em "nosso" evangelho. Desta forma, iniciamos uma vida ministerial focada no que nós podemos produzir, no que nós precisamos fazer para que o reino de Deus seja anunciado. Para isso temos que ser os melhores em tudo, nosso ministério tem que ser intocável, nossa palavra impecável, nossos cânticos sublimes.

Enquanto vivemos nessa turbulência psicológica, Jesus simplesmente nos diz: “e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo;” Por mais que nosso desejo seja sincero, a obra é dEle e Ele fará do jeito que lhe apraz, sem nos perguntar, sem dar nos dar satisfação, simplesmente tudo acontecerá de acordo a vontade dEle, até porque "os Seus caminhos, não são os nossos caminhos." Em muitos momentos, pensamos que Ele está perdendo a batalha, que não está no controle, que temos que fazer algo para ajudar, entretanto, o evangelho nos coloca num paradoxo, no qual o fraco é que é forte, quando o que não é se torna, onde o menor se torna o maior e o último é mais importante do que o primeiro. Não há uma lógica-lógica na graça, é simples assim.

Tudo se dá porque a vontade dEle é soberana, portanto, não há espaço para explicações, não cabe nos intentos dEle hermenêuticas, simplesmente porque Ele não é convencional, Ele decide abrir uma porta onde não há portas, Ele cria, produz do nada e faz com que tudo se mantenha nEle, pois, O Caminho é Ele e tudo acontece nEle, para Ele e por Ele.

Portanto, “entregue seu caminho ao Senhor, confia nEle e Ele agirá.” Deus nos convida não a uma parceria, mas a um relacionamento, onde é Ele quem deve ser glorificado, notado, sentido, almejado e não nosso ministério, não nossos frutos, não nossas realizações. Somente assim entenderemos que “tudo coopera para o bem daqueles que O amam. Daqueles que são chamados segundo o Seu propósito.”