terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O AMANTE DA MINHA ALMA


“Eu o sustentaria com o trigo mais fino, e o saciaria com o mel que escorre da rocha.” (Sl 81:16)

Asafe é o autor desse salmo, ele me fez perceber a excelência do amor de Deus quando expôs com beleza e simplicidade, como que fazendo cócegas em minha alma, me revelando que esse amor vai além do tempo, pois, “os olhos do Eterno viram meu corpo ainda informe. Os dias que Ele me deu para viver foram todos escritos no Seu livro quando ainda nenhum deles existia.”1

Ele é Senhor de vivos e de mortos, que sou eu para que seja tão amado e desejado nos céus? Me assusto sempre com o amor de Deus. O amor de Deus é uma das poucas realidades que me assustam. E amo esses sustos da graça! Meu Amante é paciente, Ele espera com calma, não se apressa, pois, sabe que seu carinho irá me constranger, de modo que está sempre pronto para manifestar seu amor, agüentando tudo, mesmo as minhas loucuras e devassidões. O Eterno se entrega em amor, em excesso, sem receios, sem limites, sem sujeição ao tempo. Ele apenas me ama e insistem em amar, sem preconceitos ou algum tipo de intolerância, visto que, Ele apenas espera e com calma e mansidão semeando em meu coração a graça da paz que excede qualquer entendimento, me constrangendo a mudar, me moldando a ser melhor.

Dia após dia Suas misericórdias se renovam com generosidade, dando a mim o melhor de Si. O amante da minha alma não faz alardes, não gosta de espetáculos, mas está sempre me surpreendendo graciosamente com sua presença inefável. Ele me revela um amor imensurável, não há lógica, não há barganhas, não há truques, não há testes, de modo que, Seu amor é algo tão profundo e marcante que ignora qualquer recompensa, não há nada que eu possa oferecer, não há um equilíbrio, Ele me ama a ponto de oferecer a própria vida para que eu não sofra. A vontade de Deus nem sempre é a mais gostosa ou a mais fácil de se realizar, entretanto, é a que definitivamente é melhor e me faz bem. Estou orando para que meu Amante seja tudo em mim, para que Ele e não o meu “eu” prevaleça. A cada dia estou me entregando, me libertando de mim.

Não há nada em mim de extraordinário, contudo, essa minha vulnerabilidade expõe que minha estrutura é o pó e que minha natureza é caída. Mesmo assim, a graça do Eterno me constrange a viver e se alimentar da esperança nEle, visto que, Ele é quem supre as minhas necessidades me ensinando como viver pela fé de se estar fundamentado no chão do evangelho, sob a Rocha firme, infalível, imutável, inabalável que me sustém mesmo diante das mais adversas circunstâncias. O apóstolo Paulo assegurou certa vez que “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!”2

O Autor de todas as coisas me ama e me deseja. Ainda há tanto a aprender, há tantos mistérios que Ele irá me revelar, há tanto amor para experimentar que eu simplesmente quero ir além da superficialidade e me entregar totalmente a tal ponto de não ser mais eu quem viva, mas que Ele viva através de mim. Minha vocação é ser tal qual a quem tanto me amou, me ama e eternamente me amará, ao Amante da minha alma.

Por, Ulisses Juliano

1. (Sl 139:16)
2. (Rm 8:38-39)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

ADAPTAR-SE PARA SOBREVIVER



É preciso ter paciência e persistência, pois, o tempo é fundamental no processo de nossas conquistas. A realidade impõe novas atitudes, constantemente precisamos nos reinventar, nos adaptar, para sobressairmos, para sobreviver.

Milan Kundera assegurou certa vez que "aquilo que o 'eu' tem de único se esconde exatamente naquilo que o ser humano tem de inimaginável."

Em geral, temos sempre tudo planejado. Com quem namorar, onde cursar a faculdade, que horário comer, o que pensar, quais planos devem ter preferência, não obstante, mesmo com tudo planejado, complicações acontecem e tudo pode dar errado, ou simplesmente constatamos que é impossível alcançarmos o que é ideal e é neste momento que, somos surpreendidos pela realidade que está em constante mutação e evolução.

Neste momento, alguns partem direto para o plano “B” e tiram o melhor proveito disso. Seguramente não é a melhor opção, contudo, é neste momento em que precisamos aprender a reavaliar nossos posicionamentos, fazer uma leitura de como estamos, do que estamos produzindo e o que realmente tem importância, pois, ás vezes o que queremos é exatamente o que precisamos. Noutras vezes, nós precisamos mesmo é de um outro plano, de uma nova perspectiva. É preciso coragem para assumir que se está fora de foco, que o caminho não é mais este que estamos trilhando, que as coisas evoluíram e ficamos para trás, contudo, essa é o diferencial entre os que alcançam seu lugar ao sol e os que vivem na sombra de outrem.

O velho Saramago tinha razão em afirmar que "damos voltas e voltas, mas, na realidade, só há duas coisas: ou escolhes a vida ou afastas-te dela." Gosto das pessoas que insistem, que não se entregam, que não se permitem permanecerem caídos. Fé, persistência, coragem, atitude, ousadia, dinamismo e dedicação, experimente!

Por, Ulisses Juliano

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

VOCÊ É UM JUDAS?


Imaginem essa cena.
Todos estavam reunidos em volta de uma mesa, alegres e felizes demonstrando toda a sua gratidão a Jesus. Ele havia ressuscitado Lázaro, um querido amigo.
Maria havia guardado aquele perfume para uma situação especial. O preço dele equivalia a um ano de salário. Era muito especial para ela, era tudo o que ela tinha de mais valor e ela o estava guardando para uma ocasião especial.

E o que ela fez?

Diante de todos derramou no mestre o líquido caro e precioso, perfumando Jesus e enxugou os seus pés com o próprio cabelo, demonstrando com sua atitude humilde e carinhosa o quanto era grata ao mestre.

Judas por sua vez era um discípulo. Escolhido a dedo por Deus e confirmado por Jesus. Quanta honra, mas mesmo estando tão próximo de Jesus, de ser tornar um dos amigos íntimos do Mestre, Judas simplesmente ignorava tal circunstância, sua mente estava numa revolução, numa libertação do julgo dos romanos. O coração desse discípulo era amargurado, egoísta e medíocre. Ao ver Maria ungir Jesus com um precioso perfume Judas se inquietou e revelou sua verdadeira face, se revelara incapaz e iníquo para a obra.

Tal como antes, ainda hoje existem muitos Judas, pessoas que sabem opinar, murmurar, criticar, reclamar, contudo, não querem participar, se envolver de verdade.
Pessoas que passam todo a vida toda criticando, procurando falhas e captando defeitos. Enquanto uns louvam ele reclama do som, muitos glorificam enquanto o mesmo murmura. Ao ofertar sente-se tão orgulhoso que parece estar dando esmolas para Deus. Homens mascarados, mulheres insípidas, vidas vazias e falsas.

Doze discípulos foram escolhidos, entre eles havia um traidor.

Talvez você pense que ninguém canta como você, ou que você é o melhor pai do mundo. Somente você tem a palavra certa? Você ostenta seu status? Vive como se fosse o mais santo da terra? Sinto te dizer que você está sentado à mesa, mas não está desfrutando do banquete celestial. Pessoas que usam os dons que Deus lhes confiou não para a glória ou o Reino de Deus, mas para o seu "eu". Se você se encaixou como uma luva nessas características sinto lhe informar, você é um Judas.

Deixe os costumes carnais que o prendem ao velho homem e abra o seu coração para uma nova realidade. Esqueça os problemas alheios e viva em intimidade com Cristo. O evangelho é um convite, Jesus quer mostrar-lhe o valor de uma alma, o gosto de uma lágrima, o prazer de orar e saber que é ouvido. Você faz parte da figueira, não seja um galho seco e oco. Floresça, cresça e frutifique. Não é uma utopia viver com Cristo. Ele sofreu em uma cruz e se entregou a morte para ressuscitar em seu coração, não deixe detalhes estragar o que mais precioso há em você.

Jesus é visto nas suas atitudes? O evangelho é uma realidade na sua vida ou somente os cultos dominicais é que possuem alguma importância?
Não estou te repreendendo, apenas mostrando o que é que realmente está acontecendo por este mundo afora.
Maria adorou e o mestre aceitou sua adoração.
Judas revelou-se e Jesus percebeu seu egoísmo.
O que você oferece?
Perfume ou críticas?
Adoração ou murmúrios?
Alegria ou tristeza?

Deus te escolheu a dedo. Você foi confirmado por Seu doce Espírito. Alegre-se na presença do Mestre que te chama pelo nome. Tudo o que Ele quer é mostrar-te o quanto és importante para Ele, dê uma oportunidade, faça uma experiência e delicie-se com o banquete que todos os dias estará a sua disposição, a Sua doce presença.
Você é seu discípulo mas Ele é mais do que seu mestre, Ele é seu amigo.

Por, Ulisses Juliano

Leia:
Marcos 14:3-9
João 15:15-16

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

DEUS É MUITO CHATO


“Ulisses, Deus é muito chato e pronto!”
Foi assim que uma jovem expressou seu relacionamento com Deus para mim, e quando comecei a conversar com ela, percebi que o deus dela era muito chato mesmo.

Geralmente, pessoas assim são ignoradas pela igreja por não se encaixarem no perfil de “supercrentes” que lhes é exigido e experimentam o tédio espiritual que por vezes as levam a esfriarem seus relacionamentos com o Pai, é nesse momento que Deus se torna chato e distante. Pessoas chegam a essa conclusão quando não têm nenhuma motivação para orar, para exercer a fé, se sentem derrotadas, exaustas e se acham totalmente indignas de receber o amor de Deus ou pior, não se importam mais se são ou não amadas por Ele. Você conhece várias pessoas que estão nessa situação, talvez você seja essa pessoa.
Por vezes experimentamos o cansaço espiritual ao esperarmos que as coisas mudem ou que os nossos desejos e projetos se realizem de acordo com nossos intentos, contudo, é preciso parar de tentar negociar com Deus e que retiremos as vendas que a religião impôs à nossa espiritualidade e experimentemos de fato as boas-novas que Jesus apregoou a tanto tempo e que para a maioria dos cristãos não parecem nada com boas notícias.

Conheço várias pessoas que ministram, que intercedem, ou que possuem dons maravilhosos, contudo, algumas delas têm suas vidas vazias, não há significado, vivem em prol de algum projeto da igreja, são apenas folhas ao vento, sem um destino certo e por isso se agarram a qualquer nova circunstância para se satisfazerem e alimentarem sua sede de auto-afirmação ou utilidade.

Nesse ponto experimentamos “exercícios espirituais”, para que possamos “evoluir” e nos tornarmos um “supercristão”. Orações infindáveis, jejuns perigosos, sacrifícios, propósitos absurdos e várias outras formas de se "exercitar a fé", o problema é que esses exercícios, em sua maioria são negações de nosso ser, ou seja, deixamos de viver nossa realidade para moldarmos uma espécie superior de crente, um ser perfeito, que não peque, que não falhe, tudo com ênfase no “eu”, nas nossas potencialidades. Daí vive-se a loucura de atrair os olhos de Deus, de tentar provar de todas as formas que somos merecedores, que temos algum mérito, que podemos ser melhores do que nossos semelhantes. Nesse momento, as nossas fraquezas são escondidas por trás das máscaras que começamos a utilizar, a culpa vem como conseqüência e naturalmente começamos a nos afastar de Deus, a quem queríamos tanto agradar e impressionar.

Neste momento, quase que ouço o Espírito Santo sussurrar “A minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.”1
O que isso significa? Deus não espera que nos tornemos perfeitos, pelo contrário, Ele tem certeza que iremos falhar, que por vezes pensaremos em desistir e retroceder e que iremos cair repetidamente, contudo, não precisamos nos esconder atrás de máscaras de perfeições, pois, o que é feio em nós é o que atrai a Deus. Por nossas fraquezas e quedas foi que Ele morreu, justamente por saber que nós não temos nada a oferecer, portanto, Deus não espera que nós tenhamos sucesso, Ele opera o sucesso em nós através da suas misericórdias que se renovam a cada manhã, para que não sejamos como éramos, mas para que experimentemos a Sua vontade e sejamos sustentados pelo seu perdão.

O que quero dizer com tudo isso? Ora, pare de esperar aprovação de Deus ou da igreja para ter um relacionamento íntimo com o Eterno, apenas vá, se entregue com todas as suas imperfeições, se apresente como um vaso de barro passível de quebras, mas também sujeito às modelagens do Oleiro.

Experimentar a Deus é um misto de amor e de uma paz que excede qualquer entendimento. Quando lhe faltar palavras, sua oração deve ser para que a fé não esmoreça. Peça apenas que Deus não afaste de você Sua presença, pois, experimentar Deus na vida é inseri-Lo em sua existência, em seu cotidiano, em seus relacionamentos, em seus porquês. Deus é teimoso ao extremo. Ele simplesmente insiste em amar, e é justamente Sua insistência de se doar, de se permitir ser Pai, de se fazer presente que cativa o ser humano diariamente. O Seu amor nos constrange dia após dia a permanecer de pé e avante. Várias circunstâncias, complexidades, necessidades, dezenas de opções para que você tome atalhos, não obstante, caminhe confiadamente no seu Guia e saiba que Ele está trabalhando mesmo sem que você não perceba.

Alguns podem estar se perguntando: "Ulisses, entendi tudo o que você falou, mas eu estou distante de Deus, será que Ele ainda me ama?" A resposta para esta indagação é simples, e foi Davi quem afirmou: “entregue seu caminho ao Senhor, confie nEle e o mais Ele o fará.”2

Quando você parar com os exercícios espirituais malucos e deixar de vez de tentar impressionar a Deus assumindo sua condição e permitindo-se ser amado pelo Pai, você finalmente experimentará o Deus dos evangelhos, e este com certeza absoluta não é chato, pois, Ele te aceita como você é e não como deveria ser. Deus convida todos a experimentar o alívio da graça para quem está cansado e oprimido.
É um convite, experimente!

Por, Ulisses Juliano.


1: 2Co 12:9
2: Sl 37:5

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

TEMPO DE PONTO FINAL


“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.”


Vazio, fútil, oco, essas palavras transmitem um tom de desapontamento e desilusão. Agarrado as posses, experiências, poderes e prazeres, que não perduram em seu interior. Milhões têm uma vida vazia, sem sentido ou significado, e se afundam em desespero. Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do “momento ideal”. Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? O projeto tão cuidadosamente articulado falhou? A amizade tão longamente cultivada foi traída?

Antes de começar uma etapa nova na vida, é preciso concluir a anterior. Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Há um momento em que se faz necessário encerrar ciclos, fechar portas, concluir, finalizar e seguir adiante. Insistir em permanecer numa determinada circunstância mais do que o tempo necessário, levará você a perder a alegria e o sentido das outras etapas e momentos que precisa viver. É fundamental deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram, não perdurar tristezas, sofrimentos ou mesmo alegrias e bons momentos.

Ficar se perguntando sobre o que ou como aconteceu não irá solucionar o conflito que se instaurou, é preciso ir adiante, dar o próximo passo e compreender que há situações que só serão entendidas no futuro, é muito fácil as emoções tomarem os olhos e nublar sua razão eclodindo num desgaste imenso para você e todos que estão à sua volta, pois, todos sofrerão ao ver que você está parado, não consegue virar a página, insiste em remoer situações em busca de respostas que só o tempo lhe dirá. Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, o que passou não voltará, contudo, insistir em saudosismos como se fosse possível modificar o passado com sua compreensão de mundo atual é absurdo. Não há como eternizar a infância, se manter como adolescentes tardios, ou filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, ou ainda amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor a fazer é deixar que elas realmente possam ir embora, por mais doloroso que seja, têm-se que fechar as portas para que o passado não possa mais afetar seu presente e influir diretamente em seu futuro. Talvez seja necessário desfazer-se de certas lembranças, de objetos, de lugares visitados, pois isso nos levará a abrir espaços para que outras tomem o seu lugar. É sabido por todos que às vezes ganha-se, enquanto que noutras perde-se. Assim, pare de esperar devoluções merecidas ou que se reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio ou ainda que entendam a intensidade de seu amor.

Finalizar circunstâncias, não é fugir, também não é por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida e isso estará apenas te envenenando, e nada mais.

É tempo de se colocar um ponto final, de mudar o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. O hoje vem apenas uma vez para nunca mais voltar. Espera-se que ele venha novamente amanhã, mesmo assim ele não vem. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Experimente ser você, viva sua realidade com intensidade e não espere algo em troca, apenas seja o melhor de você.

Por,
Ulisses Juliano

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

PRESUNÇÃO DE ESTUPRO DE INVIOLÁVEL COM O ADVENTO DAS MODIFICAÇÕES PROVOCADAS NO CÓDIGO PENAL PELA LEI 12.015, de 07 de agosto de 2009



COM O INTUITO DE IDENTIFICAR O CRIME, CONSIDERE UM CASO ALEATÓRIO ONDE O AGENTE QUE EMPREGA VIOLÊNCIA, GRAVE AMEAÇA, OU FRAUDE PARA REDUZIR A VÍTIMA MAIOR DE 14 ANOS A UMA CONDIÇÃO EM QUE ESTA NÃO PODE OFERECER RESISTÊNCIA E PRATICA COM ESTA CONJUNÇÃO CARNAL.

A Lei 12.015, de 07 de agosto de 2009, modificou substancialmente o tratamento legal dos chamados “crimes sexuais”. Diversas foram as alterações nos aspectos penais das conhecidas infrações contra os costumes, a começar pela modificação redacional do Título VI, da Parte Especial do Diploma repressivo, antes chamado “dos crimes contra os costumes” agora chamado “dos crimes contra a dignidade sexual”.
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: § 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
Não é possível a utilização do artigo 213, mesmo quando este evidencia que a vítima seja submetida à violência ou grave ameaça com a finalidade de com ela manter-se conjunção carnal, a complexidade se dá quando se observa a palavra “constranger” no caput do art. 213, de modo que, constranger pode ser configurado como o tolhimento da liberdade, ou a atitude de forçar ou coagir a vítima. Entretanto, o legislador não necessariamente preceitua a condição em que a vítima não possa oferecer resistência, e o caso supracitado é enfático neste ponto, ou seja, apenas o art. 217-A é explicitamente cabível, pois, esquadrinha a situação onde a vítima é impedida ou dificultada de manifestar livremente sua vontade e este fato se dá não só por fraude, contudo, por “qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.” Nesta conjuntura, exemplos nos quais o caso aconteça onde as vítimas possam estar embriagadas, drogadas ou sedadas podem ser alvos do disposto no referido artigo.
Por causa da ampliação do tipo, as vítimas deixarão de serem sujeitas ao estupro, passando a serem sujeitos passivos de estupro de inviolável. Se a pessoa não puder oferecer resistência é vulnerável. É importante, em cada caso concreto, avaliar a superioridade de forças do agente, apta a configurar a vulnerabilidade através da violência ou fraude.
O texto do revogado artigo 224, passou a integrar quase que literalmente a descrição típica do artigo 217-A do Código Penal. A princípio, cabe transcrever os dois textos legais para melhor compreensão do tema:

Neste caso, não se leva em conta a eventual concordância dos sujeitos passivos com o ato sexual, pois, entende-se que são incapazes – pelos motivos supracitados no § 1º –, de compreender ou resistir o delito. Trata-se de uma presunção, mesmo quando o legislador decidiu expressamente não falar em presunção. Pois, alguém nesta conjuntura em que não possa oferecer resistência, não tem condições óbvias de defesa, concluindo-se então a configuração de vulnerabilidade. Nesta esteira, observa Guilherme de Souza Nucci que: “Assim fazendo, o que se pretende é inserir, tacitamente, sem falar em presunção – um termo que sempre gerou polêmica em direito penal, pois atuava contra os interesses do réu –, a coação psicológica no tipo idealizado.” Assim, objetivando uma ou outra finalidade, a lei penal agora edificou sob o prisma da redação da norma penal incriminadora a conduta que antes era considerada criminosa por presunção legal.

Por, Ulisses Juliano





Bibliografia


MIRABETE, Julio Fabrinni. Manual de direito penal. Parte especial Arts. 121 a 234b do cp. – 27. São Paulo: Atlas, 2010.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito penal: parte especial. – 4. Ed. – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

CARUSO, Gianfranco Silva. A Lei n°12.015/09: reflexos para além dos crimes sexuais. Direito Unisal, São Paulo, 03 de novembro 2010. Disponível em: http://www.direitounisal.com.br/wordpress/wp-content/uploads/2010/03/10ed02.pdf. Acesso em: 09 dez. 2010.

JOVELI, José Luiz. Breves considerações sobre a noviça Lei 12.015, de 7 de agosto de 2009 – A questão da corrupção de menores. Disponível em: http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20090813094254785. Acesso em 09 de dezembro de 2010.

PEREIRA, Pedro. Observações à Lei nº 12.015 de 07 de agosto de 2009. Disponível em: http://www.jusvi.com/artigos/41963/2. Acesso em 09 de dezembro de 2010.

DEIXEI DE SER AQUELE QUE ESPERAVA

Deixei de ser aquele que esperava,
Isto é, deixei de ser quem nunca fui...
Entre onda e onda a onda não se cava,
E tudo, em ser conjunto, dura e flui.

A seta treme, pois que, na ampla aljava,
O presente ao futuro cria e inclui.
Se os mares erguem sua fúria brava
É que a futura paz seu rastro obstrui.

Tudo depende do que não existe.
Por isso meu ser mudo se converte
Na própria semelhança, austero e triste.

Nada me explica. Nada me pertence.
E sobre tudo a lua alheia verte
A luz que tudo dissipa e nada vence.

(Fernando Pessoa)