sábado, 31 de agosto de 2013

QUANDO O POVO SAI ÀS RUAS


Em outubro de 1660, Salvador Correia de Sá, poderoso governador da capitania do Rio de
Janeiro, depois de impor à população um imposto predial de 20 réis, saiu em viagem para São Paulo. Foi surpreendido por uma revolta popular que ganhou as praças, o depôs e instalou um   novo governo para a cidade. D. Pedro I, imperador e defensor perpétuo do Brasil, esperava ser recebido com festa em 13 de março de 1831, quando retornava à corte, após um périplo  pelas Minas Gerais. Mas os brasileiros, revoltados com a precedência dos portugueses nos ministérios e nas preocupações do monarca, saíram às ruas para protestar na base dos chuços e garrafadas.

Em 2013, prefeitos, governadores, parlamentares, partidos, sindicatos e a presidente da  República se surpreenderam  com uma onda que começou pequena e cresceu na velocidade das redes sociais, até se transformar na maior manifestação popular de toda a história do Brasil.Esses e os vários motins, rebeliões, manifestações, escaramuças e bernardas que o Brasil viveu em 500 anos de história demonstram quão falaciosa é a afirmação de que a população brasileira aceita com passividade os muitos desmandos que sua elite política tem perpetrado ao longo do tempo. A opinião pública é uma espécie de organismo vivo que pode ganhar as ruas a qualquer momento e derrubar aumentos de passages, leis, casuísmos e até presidentes   e imperadores.

Se alguém tinha se esquecido disso e considerava a população brasileira anestesiada pela repetição exaustiva dos casos de corrupção, patrimonialismo e incúria, a partir do espetacular junho de 2013 terá de rever seus conceitos.

Dirley Fernandes (Editorial da Revista História Viva nº 118, Agosto de 2013)